CABINDA !ANGOLA RECLAMA O QUE É AINDA PORTUGUÊS

  • há 6 anos
História da Província Angolana de Cabinda (opinião)
21/12/2017 — André Calado Coroado
Atendendo ao contexto político e social da pequena província angolana de Cabinda, é fácil perceber que nunca deveria ter sido escolhida para palco da CAN 2010. Uma semana depois dos ataques terroristas na província angolana de Cabinda que atingiram a selecção de futebol de Togo, decidi fazer um sumário dos acontecimentos referentes a esta complexa situação, deixando as minhas opiniões acerca das questões aqui postas em causa. Mas isso ficará para outro post. Por agora vou fazer uma contextualização histórica da Província de Cabinda.

Congo Português

Cabinda é uma pequena porção de terra que não faz fronteira terrestre com Angola, limitada ao norte pela República do Congo e a sul e oeste pela República Democrática do Congo (antiga República do Zaire). No final do século XIX, a região de Cabinda foi oficialmente considerada território sob administração portuguesa após um acordo entre os colonizadores e os soberanos locais. Uma vez selado este pacto, definiram-se as fronteiras de Cabinda, na Conferência de Berlim (1885), repartindo toda a região do Congo entre Portugal, França e Bélgica. A região de Cabinda constituía o Congo Português, enquanto a norte se situava o Congo Brazaville (Congo Francês) e a oeste o Zaire (Congo Belga).

Nesta época, Cabinda possuía fronteira terrestre com a colónia de Angola, embora as duas regiões fossem administradas separadamente. Posteriormente, a Bélgica reivindicou uma pequena linha de costa, para facilitar o transporte de pessoas e mercadorias entre a metrópole e o seu Congo Belga (que não apresentava orla costeira). Portugal acedeu ao pedido da congénere da Europa Central e, assim, as afinidades geográficas e políticas entre Cabinda e Angola tornaram-se ainda menos significativas.


Fronteiras actuais da Província de Cabinda

Guerra Colonial Portuguesa

Várias décadas se passaram. Em plena metade do século XX, enquanto a Inglaterra, a França e outros países europeus concediam de modo quase sempre pacífico a independência às suas colónias africanas, os “brilhantes” governantes portugueses (“salvadores da pátria” e pessoas afins) mantinham-se sempre fiéis aos seus ideais pseudo-patrióticos e à concepção imperialista de que “Portugal não é um país pequeno” (ver nota no final). Os povos locais, naturalmente revoltados contra o domínio repressivo dos portugueses, não se fizeram rogados e exigiram a independência. Como os retrógrados, idiotas e teimosos estadistas portugueses não se dignassem a abdicar da sua preciosa fonte de riqueza, a guerra colonial eclodiu, nos primeiros anos da década de 1960 do século XX, em Angola, na Guiné e em Moçambique.

Numa tragédia bélica fundamentada no egoísmo e na desumanidade dos governantes do Estado Novo, a mortandade foi muito elevada para os dois lados, gerando nas colónias uma carnificina fútil e contínua, enquanto no nosso rectângulo se instaurava um clima de tensão e angústia, com os portugueses dominados pelo medo e as suas apreensões constante, na ansiedade de saber se os seus familiares e amigos regressariam da guerra com vida. Tempos verdadeiramente difíceis. Felizmente que não vivi nesta época!


Soldados portugueses em Angola

Revolução do 25 de Abril (1974)

25 de Abril: a Revolução dos Cravos
Revolução dos Cravos

As lutas prosseguiram, num período terrível em que o único vencedor da guerra era a própria morte: nem os portugueses conseguiam submeter os povos locais ao seu poder (os locais não baixariam os braços até conseguirem a independência) nem os povos locais eram bem sucedidos na sua tarefa de expulsar os estrangeiros europeus da sua própria terra (os governantes portugueses também não desistiam e continuavam a exigir o sacrifício de todas as famílias por aquilo a que indecentemente chamavam “defesa da pátria”).

Até que, para júbilo de milhões de portugueses (e desgraça de outros, mas esses não importam), se deu a gloriosa Revolução dos Cravos, no próspero dia 25 de Abril de 1974, que quebrou as grades que faziam de nós “orgulhosamente sós” e libertou a alma lusitana deste maravilhoso país, oculta sob os escombros da democracia nacional, durante quase meio século sob o jugo dos tiranos.



Independência das colónias

A situação nas colónias não ficou imediatemente resolvida, mas iniciaram-se negociações no sentido de conferir a independência às regiões em causa, o que se viria a consumar nos anos seguintes. No caso de Angola, a independência foi concedida oficialmente a 11 de Novembro de 1975, data que permanece feriado nacional neste país lusófono.

A região de Cabinda, que também deixou de estar sob o domínio português, passou a constituir território angolano. No entanto, a população local não assistiu a esta transferência de poder de portugueses para angolanos com bons olhos: afinal, deixavam de estar dependentes de um povo para ficarem dependentes de outro.

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