Bósnia-Herzegovina: A morte a carvão

  • há 8 anos
Enquanto o número de cancros de pulmão devasta pequenas localidades na Bósnia-Herzegovina, pergunta-se qual é o destino das centrais elétricas a carvão que existem no país. Na verdade, há mesmo sete novas unidades no horizonte. Mas face à descentralização do poder, ninguém parece querer assumir responsabilidades.

A aldeia de Divkovici, no leste da Bósnia-Herzegovina, mobiliza-se para o Dia de Todos os Santos. O pai de Goran Stojak faleceu há três meses, vítima de um cancro de pulmão. Está longe de ser caso único nesta pequena comunidade: em apenas 4 meses, 6 habitantes morreram da mesma forma.

O dedo está apontado à central elétrica a carvão de Tuzla, que liberta os seus resíduos a algumas centenas de metros da aldeia. Há 4 anos que Goran alerta toda a gente que consegue alcançar para a poluição que esta central provoca.

“A central está ali; a conduta traz os resíduos até aqui. A água que sai infiltra-se na terra, propaga-se ao longo das margens do lago, de um lado e do outro. Penetra nos poços que os habitantes usam para ir buscar água potável”, explica-nos Goran.

Os resíduos são filtrados e encaminhados para uma estação de recolha. O ano passado, um laboratório independente efetuou análises nos terrenos circundantes. Os resultados revelaram uma forte presença de metais pesados até várias dezenas de metros de profundidade.

O que parece terra normal, fértil, é na verdade uma poeira acumulada de resíduos que vêm da central a carvão. Contém cádmio, mercúrio, arsénico e crómio. Todos estes elementos contaminam os terrenos em torno da aldeia, assim como a água.

O vento faz o resto. Bronquite, asma, doenças pulmonares são mais do que comuns aqui. “A noite passada, tive de levar a minha mulher e o meu bebé de 7 meses ao hospital porque tinham os pulmões obstruídos. À noite, quando estou na cama, ouço os gritos de dor do meu vizinho. Ele tem cancro do pulmão. Estamos condenados à morte. Daqui a alguns anos, esta aldeia fica sem ninguém. Toda a gente vai desaparecer”, vaticina Goran.

Apesar dos sucessivos alertas de Goran, as autoridades locais ainda não tomaram qualquer medida. Divkovici tem, hoje em dia, cerca de 70 habitantes. Mila tem uma reforma muito baixa. Depende da sua horta para subsistir.

“Antes, as beterrabas chegavam a pesar três quilos. Agora só as posso dar ao gado. Não temos outra escolha. Toda a gente aqui tem reformas insignificantes. Temos de viver de alguma coisa, não há dinheiro para comprar comida. O meu filho está desempregado. Tenho de cultivar para comer”, conta-nos.

4+7

O carvão é o mais nocivo dos combustíveis fósseis: contém metais pesados, dióxido de carbono, óxido de azoto, dióxido de enxofre, partículas finas, entre outros. Tendo em conta todos os fatores, Tuzla é considerada a segunda cidade mais poluída da Europa, diz-nos a Seenet, uma ONG para a proteção ambiental.

Esta organização tem-se destacado na luta contra o projeto de expansão da central e apresenta soluções de poupança energética. “Atravé

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